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segunda-feira, 19 de julho de 2010

A morte - Por Fabiane Guimarães

(li o texto no site dos Diálogos Universitários e achei pertinente)
A vida é uma grande ilusão, tão eficiente que nos esquecemos de como vai acabar: dentro de uma caixa de madeira, soterrada com sonhos e um punhado de vermes. Embarcar nessa viagem sem saber a hora de partir é desonesto e agonizante, além de comprometer a coerência de nossos projetos. De tantas maneiras vivemos para o futuro, que a hipótese dele não chegar é horripilante. Talvez por isso insistimos tanto em dirigir e protagonizar nossa ficção diária, tão mesquinha e digna de compaixão, quanto essa realidade que precisa de razões inventadas para se tornar suportável. Somos carne, e apodrecemos. Nenhuma ambição desviará o curso de uma desagradável mortalidade.

Muitos vão tarde, outros cedo demais. Tenho uma teoria para explicar tamanha falta de consideração divina: esse plano terreno deve ser apenas uma maneira de nos aperfeiçoar enquanto pessoas. Aqui estamos sujeitos a todos os tipos de infortúnio, e é para se livrar deles que os melhores vão na frente. Fugir desse mundo é prerrogativa dos virtuosos. Morrer não é tão ruim assim, principalmente se existe um paraíso à espera de quem sofre demais. Tem que existir um paraíso.

Por que a morte é tão dolorosa, se temos conhecimento de que ela chegará? Não existe dor maior do que a de sentir saudades, e nunca mais poder matar. Ao menos contamos com a existência de um precioso bálsamo que, se não extingue o sofrimento, ameniza. Estamos falando do tempo, bengala dos despedaçados e senhor da reestruturação. Ele que vem para varrer os estilhaços que ainda nos machucam sem querer.

O envolvimento é uma perigosa via de mão única. Sim, amar alguém com a consciência de que vai perdê-lo algum dia é loucura. Mas viver na solidão é assustador e praticamente inviável. No fim, é o valor sentimental que precisa perpetuar, para que alguém chore por você também. Quem se vai é lembrado até que a última pessoa que o amou desapareça da face da terra. Aos que não nasceram gênios nem poetas, essa é a maneira mais verdadeira e simples de ser imortal.

* dedicado ao amigo Saulo Ribeiro, falecido em Fevereiro de 2009, aos 18 anos.

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